sábado, 24 de novembro de 2012

Dez Coisas Que Eu Odeio em Mim


Ano velho, psicólogo novo. Além de eu não poder me dar ao luxo de ir na minha antiga por ela ser muito cara eu, desempregada, estava há tempos querendo alguém que não ficasse só investigando sentimentos, cavoucando traumas e revendo processos mentais porque o que eu venho buscando é transcender a minha mente. Ah, a mente! Essa bitch voz incessante dentro da minha cabeça e não é esquizofrenia, o rádio que toca as canções mais bizarras, a pior conselheira e a mais atribulada maquininha de julgar. Devia ser Livrai-nos de nossa mente, amém, a oração. 
E aí que o psico novo me fez escrever dez defeitos e dez qualidades do meu pai. É, tadinho,  a gente vai começar com ele. Eu falei que a minha mãe ia ficar feliz porque segundo ela absolutamente tudo é culpa da mãe. Seu computador quebra,  o que foi? A placa-mãe! A língua materna, a pátria-amada-mãe-gentil! Mas depois vai ter uma hora que aí que eu vou ter que pedir para três amigas para elencarem também a minha lista. Eu pressinto que a minha situação não vai ser das mais favoráveis pois vou ter que lidar com trinta defeitos discutidos e discorridos com o cara novo depois, pois eu não tenho direito à defesa na frente das minhas escolhidas. Será que se eu pedir para uns amigos homens eles pegam menos pesado? 
Pois eis que eu resolvi começar eu mesma, que além de ser pró-ativa eu vou me preparando. Na verdade resolvi ver dez coisas que eu não gosto em mim ou na minha vida, ou que eu não quero mais brincar 
1- Eu não gosto do fato de eu não ter um gato. Até porque muito provavelmente eu vá mesmo ser uma tiazinha solteira para o resto da vida então é melhor comprar uma capa para o sofá e encarar de vez o destino de ser a velha louca dos gatos. Prometo começar com um só. 
2- Não gosto de não ser rica, milionária. 
3- Eu ter tido múltiplos interesses na vida foi muito legal mas eu nunca foquei muito em uma coisa, já fiz um monte de curso caro e acabo não os usando. Fico me sentindo uma pessoa que sabe um pouquinho de um monte de coisas mas profundamente sobre nada, fora a grana gasta e o tempo que parece desperdiçado. 
4- Celulite
5- A minha indecisão. Ter mais de trinta e ainda não ter certeza do que quer ser quando crescer é super cansativo. Mudar de idéia quinze vezes em dez minutos também não é um índice do qual eu me orgulhe. 
6- Não ter atingido a iluminação. Eu estou lendo um livro que o cara disse que passou por uma fase depre e de repente se deu conta da felicidade e se iluminou mas que foi tudo muito fácil e indolor. Parece assim que ele está contando conseguiu cagar depois de ter ficado uns dias se ir ao banheiro. Também tive um momento psicose feelings quando o meu psicólogo novo disse que ele atinge o êxtase muito facilmente. Eu fiquei olhando para a cara dele, eu nunca. Será que só eu preciso sentar a bunda e meditar loucamente, ler tudo que me aparece na frente sobre os caminhos da iluminação,  pastar na Índia e ainda não conseguir? 
7- Eu queria muito não gostar de doce. Nem nunca ter experimentado o capuccino da Kopenhagem. 
8- Eu queria um armário novo. Ou que todas as minhas roupas ficassem magicamente maravilhosas em mim. 
9- Eu odeio o fato de eu gostar de ter um relacionamento. Eu queria simplesmente QUERER ficar sozinha, mas alguma coisa dentro de mim quer, apesar de eu ser tão comprovadamente ruim nisso, ainda quer ter alguém e me sinto boba, frustrada e cansada por isso. 
10- Eu não quero mais me identificar com os meus sentimentos. Eu quero entender na prática que os meus sentimentos não sou eu e que os meus pensamentos não me definem. Eu quero me amar loucamente apesar das coisas que eu não gosto, quero ser a expressão máxima do meu melhor. 
Também não vejo muito o porquê das listas terem que ter dez itens, se eu encontrar uma numeróloga um dia na vida essa vai ser uma das perguntas, qual é a das pessoas e suas listas de dez? Acho que é porque temos dez dedinhos na mão, sabe quando você vai falando com raiva os defeitos para a pessoa e contando nos dedos? É isso, dez, acabaram-se os dedos.