domingo, 24 de fevereiro de 2013

Castelo de Areia, Palavras de Vento

E eis que mais uma vez eu acho que aquela pessoa não vai me magoar, pelo menos não tão cedo, porque ela é aquele poço de charme e inteligência e me conhece tão bem que há de ter consideração e respeito. E eis que a pessoa é só humana e erra. Erro eu, erra tu nessa dança de tentativa e erro que chamamos de vida. Nunca se ama pelo que o outro é, mas pelo que reflete em nós. Não é que eu goste de você por ser engraçado, mas porque me faz rir, o amor que se sente é pelo sentimento do amor. Não que desgoste agora porque me decepcionou mas porque eu criei expectativas que não foram correspondidas. Errei eu? Errou tu e do seu pequeno deslize destilei todo o meu rosário de erros. Errei eu, então? Bolei na minha cabeça historias possíveis tão curtas quanto um sonho bom e vai ser só mais um. A arte de sentir falta de algo que não existiu, tentei pegar com a mão palavras sedutoras que eram de ar. Cheiros e toques que teimam em vir à minha lembrança para insistir que não é porque é intimo, terno e urgente que é profundo. A casa era linda e aconchegante, mas ainda assim foi construída sobre areia e beleza não é alicerce de construção. Um conto erótico nunca vai ser um romance de quinhentas páginas, por mais tempo que aquelas páginas tenham passado na prateleira, folhas grampeadas não vão virar um capa dura só porque assim se quer. Um capa dura de quinhentas páginas há de se ter cuidado, ele é caro e você devota uma certa decisão para comprar e para começar a ler e não dá para ler de qualquer jeito, jogado em um mar de lençóis amarrotados. Mas as folhinhas impressas que, dobradas à esmo, sumiram do bolso e se perderam e não se viu e nem se sente. Mas levo comigo as folhas soltas. Vou dobrá-las e guardar dentro de um livro, em um daqueles que você me leu alto uns trechos relevantes para o que estávamos falando. O texto perfeito que um só um verdadeiro artista consegue mostrar o quanto nossa vida é comum e tudo que pensamos já foi dito antes. Escrevo essas palavras em meu diário de frustrações e também vai ser só mais uma da coleção. Sem arrependimentos. Logo a magoa passa e da pitada de sal que se acrescenta para ressaltar o doce não fica mais nada, só um gosto de sol.