segunda-feira, 24 de setembro de 2012

De Volta à Volta


De volta para Rishikesh que começou o curso. A volta foi surpreendentemente mais fácil, em termos indianos, claro. Isso entra ter que atravessar a estação de trem pelos trilhos do trem. Ainda bem que uma boa alma de um cara me ajudou a carregar minha mala. Eu estava em um vagão com ar condicionado e além de não ter ratos tinha lençóis LIMPOS. Foi a primeira vez que eu vi lençóis tão limpos na India. Mas, (sempre tem um "mas") a espera na estação teve um episódio que merece uma narração. Aqui na Índia não tem papel higiênico em nenhum lugar, hotel nada. Muito menos lixinho no banheiro. Eu sempre me perguntei como elas faziam para jogar os absorventes fora, até que eu fui no banheiro da estação de trem, que é pago por sinal, e achei a solução encontrada pelas indianas para tal dilema: elas colam o absorvente usadinho atrás da porta do banheiro, não é genial? Eu podia ter passado a vida sem ter tido essa visão.
O curso está sendo bem legal, mas o ashram é longe de tudo e estou uma excluída digital. Tem uma salinha cheia de computadores velhos com internet, mas fica aberta só em certo horários e na maioria deles eu esto em aula. Como eu voltei para uma cidade que eu já estava e fico metida o dia inteiro no ashram fazendo curso não tenho muita novidade. O curso tem mais três brasileiros além de mim, somos a maior comunidade aqui! Tem três senhoras da Malasya que são mas fofas, super engraçadas e elas vão para Delhi logo depois do curso, eu vou com elas e a gente vai de lá para Agara para ver o Taj Mahal. Volto para o Brasil no começo de outubro e já estou contando os dias olha que coisa! É como se fosse férias ao contrário. Sempre que o povo vai sair de férias fica contando os dias, eu esto contando os dias para voltar!
As fotos são de Dharamshala ainda pois não andei tirando muita coisa nova e do pessoal do curso quando fomos jantar.

domingo, 16 de setembro de 2012

Shana Tova Úmido

Descobri que hoje é o ano novo judaico, por isso isso aqui está parecendo uma colônia de férias para jovens Israelitas desencanados. Eu ainda não tive paciência de perguntar qual é, se Dharamshala está na moda ou se é muito barato e perto vir para cá porque eles só andam em grupo. E também que esse tipinho neo-hippie já me deu, tudo bem que deve ser mesmo mais fácil manter um cabelo que você não lava aqui e um visual sujinho dado ao barro do lugar, mas acho que os anos de Unicamp eu já tive a minha cota de mundrungos.
Aqui é de uma umidade que faz Ubatuba parecer um deserto mais a porquice indiana, então tudo cheira a mofo, até meus pensamentos estão mofando. Eu fui falar para o dono do hotel que o quarto cheirava mal e ele me falou que eu precisava fazer mais reiki. Reiki, sei. Eu peguei minha malinha e fui para outro lugar mais barato, menos barulhento e tão sujo quanto.
Para não falarem que eu só falo das coisas ruins daqui, vou falar de coisas de que acho boas: as crianças são muito livres, andam e brincam por ai sozinhas. Também é muito seguro, você não ouve falar de assalto e eu me sinto segura. Também tem coisas que eu peço no restaurante que em São Paulo iam achar a maior esquisitisse aqui é normal. Se bem que pedir comida é sempre uma emoção, depois de muito custo aprendi algumas palavras do cardápio essenciais para a sobrevivência, tipo queijo, batata. Não que isso ajude muito pois entre pedir e a comida que você receber são muitos alinhamentos cósmicos para os indianos darem conta. Tipo o macarrão com cogumelos e molho de tomate que eu pedi e veio um lindo molho branco. Estava bom, mas é engraçado para um prato que chama "Panna Fungi & Salsa Rosa". Tem uma padaria que o queijo quente não vem quente. Eu já to numas de virar para o garçom e dizer escolhe aí você mesmo e me dá qualquer coisa que não venha cheia de pimenta, vai. Contando que não tenha ratos ou que eu eu não os veja ta no lucro.
Eu estou aqui nessa minha jornada de auto conhecimento e sinto que já alcancei um pouco dessa busca pessoal. Tipo, eu descobri que toda vez que eu como pimenta meu nariz escorre, que não importa que buraco eu me enfie, eu sempre acho umas coisinhas para comprar e algum lugar com wifi.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Em Terra de Lama Quem Tem Paz é Buda


Chegamos à Dharamshala. Vindo de Rishikesh são 474 km e a viagem durou vinte e quatro horas. Boa parte desse tempo em que eu não estava dormindo eu fui me perguntando por que eu faço essas coisas comigo mesma. Na hora que a gente chegou na estação, ainda em Rishikesh eu já tinha me arrependido, a sujeira que era, cheio de porcos enormes e pretos procurando comida, muitas moscas e gente jogada no chão, tudo junto. na hora em que pus meus olhos no trem eu pensei, ferrou. Eu tinha me cansado bastante para conseguir dormir, fui dormir tarde, acordei as 4:30 para a meditação da manhã, fiz duas aulas de yoga seguidas e bati perna o dia inteiro. Daí no trem as coisas foram piorando, chegam os nossos companheiros de banco. São dois bancos um de frente para o outro e cabem seis pessoas ocidentais. Eu digo ocidentais porque se deixar os indianos vão se espremendo e onde cabem três cabem sete. Daí tem o banco " térreo" onde vai dormir uma pessoa e o encosto vira uma outra cama, além da 3a cama em cima. O trem já era sujo o suficiente, nossos vizinhos não paravam de comer quitutes fedorentos. Eu já estava cansada, com nojo e de saco cheio porque só tinha eu e o francês de estrangeiros e as pessoas ficam encarando como se eu fosse uma alien, quando eu vejo um ratinho passando do lado da minha mala. Eu só tive tempo de colocar os pés para cima, enfiei minha cabeça no meio dos meus joelhos e comecei a chorar. De cansaço, de nojo, de saudade... O francês ficou com tanta pena, pegou o saco de dormir dele para eu usar de travesseiro e eu fui para a terceira camada de cama lá em cima dormir. O medo que eu tenho de rato é uma coisa inexplicável. Quando alguém me fala que tem fobia de alguma coisa, nem que seja de borboleta eu super entendo. Medo é medo, eu nunca vi ninguém ser atacado por uma borboleta, não precisa ter passado por um evento, o mais perto que eu cheguei de um rato foi ali, no vagão e mesmo assim tenho esse pavor gratuito com os bichinhos. Depois desse trem teve outro trem que a estação passou e não tem como saber e nós não vimos, é meio na adivinhação. Depois um ônibus daqueles com emoção e que parava a cada quinze minutos, para quem tem essa encanação dá para dizer que eu vi a "Índia real". Eu digo encanação porque eu não acho que tem que se meter em uns buracos para ver como o povo vive, todos os lugares têm vários aspectos e há muitas maneiras diferentes de viajar. Eu estava conversando com os japoneses e o menino falou que queria ir lá para não sei onde ver como o povo indiano realmente vive. Vive mal, na sujeira, isso eu já vi. Eu falei que queria ver uns indianos ricos porque eu não vi nenhum e queria saber como eles vivem também. O bom é que eu estou gostando daqui. Tem que caminhar loucamente para cima e para baixo mas o ar é muito puro e é bem menos sujo que Rishikesh. Os lugares são limpos mas os quartos invariavelmente cheiram a mofo porque é super úmido, cheio de córregos e quedas d'água. Tem bastante estrangeiros, mas é um nível de desencanação! Eu estava tentando achar algumas meninas menos sujinhas para elas me indicarem algum hostel mas as que eu achei falaram que o delas não era muito limpo. Difícil achar uma patricinha por esses lados para dar uma referencia aqui! Mas sem querer eu achei a Lucy, uma chinesa que estava no ashram em Rishikesh e nos encontramos. Já estou local! A gente foi junto na residência do Dalai Lama, ele não estava, acho que ele esqueceu do nosso encontro marcado...
Fotos abaixo: os macacos e porcos, parece um zoológico mas é a estação de trem. Foto do trem que parece uma prisão, do ashram que os Beatles ficaram quando estiveram em Rishikesh e agora esta abandonado mas um povo foi lá e pintou em uma das galerias.

domingo, 9 de setembro de 2012

Karma Yoga for Dummies

Aos domingos não temos as atividades da semana no ashram, meditação, aulas de yoga, palestra. Aí ontem o professor me vira e fala: amanhã de manhã temos Karma Yoga, que é um tipo diferente de prática. Ok, seis e meia da manhã, repetindo, seis e mia da manhã de um domingo, estou eu lá e o pessoal começa a trazer balde, aspirador de pó, panos. É para a gente limpar o lugar! Karma Yoga, aprenderam essa, crianças? Quando eu for pedir um favor para alguém vou dizer: Você quer praticar Karma Yoga? Eu iria com a pureza do meu coração fazer o trabalho desinteressado, eu já havia me preparado para isso e sabiabque ua acontecer em um ashram, mas chamar de Karma Yoga é uma coisa que só na Índia mesmo.
Para ir do meu quarto ao lugar onde é o salão de meditação ou as aulas de yoga, eu tenho que subir por um caminho que tem grades ao lado e em cima, fechando o caminho todo e não tinha entendido o por quê. Até outro dia quando eu estava andando e tinha muitos, mas muitos macacos na grade fazendo macaquisse. Até aí tudo bem eu fiquei olhando, "que fofos, os filhotinhos", parecia até um zoológico, quando eu vejo uma pedra, de um tamanho bem bom que um dos danadinhos arremessou! Em mim, uma praticante de Karma Yoga!! Outra hora eu estava sentadinha esperando a meditação começar e um deles passou, solitário. Ele olhou uma das torneiras do jardim, abriu e começou a beber água, parecia gente! Tudo bem que ele não fechou eu achei isso extremamente anti-sustentável da parte dele. Quem quer que seja que não acredita em Darwin (como se fosse uma coisa para não acreditar) nunca observou um bando de macacos por um tempo. Aqui então, eu ando achando os macacos super mais mentalmente evoluídos que muita gente, mesmo jogando pedra e tudo. Eu fico repetindo para mim mesma, tentando me convencer: é cultural, é cultural, Renata. Mas cada coisa... Que nem uma mania engraçada de balançar a cabeça para os lados que ela têm, mas não como se estivesse dizendo não, é como se estivesse alongando as orelhas, só que abrandando bem rapidinho. Mas isso eu já sabia, tinha até naquela novela das Índias, agora, o que eles fazem muito é te responder que sim mas fazer não com a cabeça! Eu me sinto falando com o Chaves. Dialogo entre Chaves e Chiquinha.
Agora eu fiz uns amiguinhos lá do Ashram, inclusive ontem fomos a um restaurante com apresentação de música. A música era legal e eu estava morrendo de fome, nosso grupinho consistia em uma menina japonesa super querida, Taeko, um menino japonês super engraçado que imita os indianos falando e a gente morre de rir e o Bruno, um cara francês daquele que já desencanaram da vida, já morou no Nepal, aqui na India... Bom, aí que eu estava super curtindo a comida, o Bruno vira e fala - olha um rato e cai na risada. Incrível como fome pode ser muito psicológica mesmo, naquele segundo a minha fome passou! Mágica!
Eu estava querendo muito ir para Dharamshala, uma cidadezinha aqui mas o cara da agência de viagens falou que o ônibus demorava 14 horas e que não tinha trem direto. 500km em quatorze horas, na Índia? Minha vontade passou na hora, como mágica. Bem que tinham me falado que a Índia é uma terra magica! Mas eu comentei com o Bruno e ele está indo para Dharamshala na Terça, de trem depois ônibus. Vai ser uma missão, mas pelo menos vou com uma pessoa que já conhece. Essa é a cidade que o Dalai Lama mora quando não esta viajando pelo mundo, ou seja quase nunca.

Num dos meus últimos dias na Thailandia eu vi umas meninas correndo descalças, mas correndo mesmo, na pista de corrida. Eu comentei coma minha professora de massagem e ela disse que é muito melhor assim, que a gente inventa de colocar tênis e o corpo vai se acostumando até que a gente acha que se não usar tênis não vai ter amortecer o suficiente mas que o corpo foi feito para isso mesmo. Eu achei pertinente. Aqui na Índia eles não usam muito calçado algum, só que o que eu vejo de gente torta, tudo manquetola! Então não sei se concordo mais com o pézão no chão o tempo todo. E também que nojo andar descalça aqui, os germes vão entrando até no meu pensamento. Eu não posso nem falar muito nisso que eu estou de luto, eu tomei uma chuva daquelas de ensopar outro dia e nem a impermeabilidade do meu tênis resistiu. Eu até aproveitei para dar uma lavada nele, mas como demorou muito para secar ele esta com cheiro de cachorro molhado que dor no coração! Pois é, sou apegada no bichinho mesmo! Nele e na saúde dos meus pés e minha saúde mental do nojinho que eu fico de pisar nessa imundície. Aqui nesse país todo espiritualizado, eu fico tendo esses pensamentos muito elevados, pão de queijo na chapa com requeijão, usar salto alto, ir ao cabeleireiro, pintar as unhas de vermelho, arroz e feijão só de lembrar quase choro. Eu acho que as pessoas falam que a India ajuda a elevar o espirito porque aqui precisa de tanta, mas taaaanta paciência para tudo e qualquer coisa que depois tudo parece fichinha. Quando escutava história de gente que chegou e foi embora imediatamente, no próximo vôo e pensava, nossa mas que povo intolerante! Pessoal que foi embora, agora eu os entendo.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sagrada Irritação

O que dizer da Índia? Eu estava achando que eu era uma fresca de não estar gostando, de estar me sentindo irritada, frustrada, mas ai eu estava no único lugar com wifi da redondeza e chegaram duas alemãs com uma cara de quem tinha pisado em cocô descalça mas estavam cansadas demais para fazerem alguma coisa. Na hora que faltou luz, coisa mais comum aqui, acontece várias vezes por dia, a gente começou a conversar e falamos de como esse país estava sendo frustrante, e foi aquela sessão terapia coletiva então não sou só eu.
Eu estou aproveitando algumas coisas daqui, tipo ir em um médico Ayverdico e numa astróloga. A consulta com a astróloga durou cinco horas, eu já não agüentava mais falar e escutar sobre mim mesma, já estava quase perguntando se a gente podia mudar de assunto. Ela disse que eu sou médium, sei. Todo mundo se acha médium. Na outra vida todo mundo foi um grande rei, um guerreiro, nunca vi ninguém falando que foi um vendedor de frutas, pipoqueiro, ladrão... Ela disse que eu tenho um espírito antigo. Sim, meu espírito está mesmo para uma velha, daquelas bem reclamonas. A menina alemã disse que precisa de umas três semanas para as coisas assentarem e começar a gostar daqui. A Carol também me escreveu que as vezes a gente precisa do caos para colocar tudo em ordem. Eu concordo. Que nem quando vamos arrumar o armário, tem que tirar tudo, fazer aquela bagunça para colocar tudo no lugar. Eu nem acho que eu esteja tão bagunçada assim para precisar de todo esse caos, mas ok. A astróloga me disse que eu tenho que me amar e me aceitar incondicionalmente para poder amar aos outros seres humanos. Só que o fofo que inventou o amor universal não esteve na Índia. Como amar o desgraçado que passa de moto buzinando alto e incontrolavelmente na contra mão em uma ponte que supostamente é só para pedestres? E milhares deles fazendo isso tudo junto? Num país que o rio, a comida é sagrada, as vacas, os ratos são sagrados eles bem poderiam considerar as mulheres sagradas, por exemplo. Isso seria louvável ao invés de tratá-las como lixo. Ou considerar sagrado o seu próprio país e não jogarem tanto lixo em qualquer lugar, mesmo no sagrado rio. Mas aos poucos, beeem aos poucos eu vou ficando menos irritada. A Índia é a Ásia na sua expressão máxima. Eu contei aqui que os Balineses eram super enxeridos, na verdade eles são seres reclusos perto dos indianos.
Eu gosto muito dessas figuras representativas da força das águas, já escrevi carta para Iemanjá e ela super me atendeu. Aí eu estava de manhã na margem do Ganges com a minha cartinha na mão, em forma de barquinho, que a astróloga falou para eu pedir para o Ganges que ele dá, senta um indiano do meu lado e começa a puxar assunto. Depois das perguntas básicas iniciais, de onde eu era, se era a 1a vez na India, qual hotel e tal ele perguntou que horas eu acordava, que horas eu ia dormir e coisas do gênero. Aprofundou muito mais! Eu muito educadamente falei para ele que era um prazer conhecê-lo mas que eu estava no meio da minha meditação, ele pediu mil desculpas e saiu sem se ofender, pois eles respeitam muito isso. E toda vez que eu ponho os pézinhos para fora do quarto eu tenho que assinar um caderno com meu nome, país, horário de saída e propósito (se vai no yoga ou jantar por exemplo) É a institucionalização da enxeridisse! Eu estou muito, mas muito tentada a escrever em Propósito: "encontrar a paz interior" ou "também estou me questionando se há algum". ÓBVIO que eu já perguntei para o baixinho da recepção para que servia aquilo, ele disse que a policia pode usar se a pessoa tipo vai embora do país. Ah, tá! Até porque se está escrito ninguém mente né? E quando eu mudei de quarto tive que fazer todo o check in de novo e escrever meu endereço mil vezes eu falei por que você precisa do meu endereço tanto? Ele: Eu escrever carta para você! Hahaha pronto, podem começar a gostar dele.
Mas uma coisa boa daqui, a maioria das coisas que eu falo no Brasil e as pessoas não fazem idéia do que eu estou falando aqui faz parte do dia a dia deles. Eu estava no restaurante e como não sei desvendar o cardápio ainda eles fazem uma consultoria, aí eles me sugeriram alguma coisa com alho, óleo (acredite não era macarrão ao alho e óleo, esses eram só dois dos mil temperos do tal prato) e eu falei que o médico disse que eu estou com Pitta muito alto, rapidinho eles escolheram meu prato, falaram que não iam colocar isso e aquilo, muito eficiente. A vontade de ir embora mais cedo ainda não passou, mas estou conseguindo não ficar tão irritada nem querer matar ninguém. Já é um começo.

sábado, 1 de setembro de 2012

A Sorte, essa meretriz


Uma vez eu vi um filme bobo ai, comediazinha romântica que a moça falou que ela ficava no jardim procurando as joaninha e não achava, quando ela desistia ou dormia, aí uma pousava nela. A sorte as vezes é assim. No meu ultimo dia na Thailandia eu achei 50 dinheiros no chão. Tudo bem, não é muito, mas já dava para comprar um café. No aeroporto achei uma revista Elle inglesa, desse mês! Foi tanta emoção! Eu estava sonhando com a Vogue, mas a Elle achada já superou as expectativas. Eu tinha reservado um motorista para me levar de Nova Delhi até Rishikesh por ser o jeito mais rápido, mais seguro e não era nada caro. A outra opção era um daqueles ônibus que a gente vê em filme, com galinha e tudo. Até porque aqui na Ásia você faz 300 Km em umas sete horas. Eu ja fiz 400 Km em 18 horas. De carro, de ônibus demora mais e eu não estava animada desse tanto para já ter uma experiência completa assim logo nas primeiras horas, estar aqui já é o bastante. Enfim, era para o cara estar lá me esperando com uma plaquinha com o meu nome. Eu esperei um pouquinho, ele não chegava eu fui andar um pouco e quando eu vi eu tinha saído de dentro do aeroporto e o guarda gentilmente me disse que eu não podia voltar mais. Aí foi delicia! Para entrar de novo tem que pagar, mas não pode entrar com as malas. Toca andar até lá não sei onde para deixar as malas. E tinha que ficar com a minha mochilinha de mão porque onde deixa as malas não pode deixar câmera, tablet então deixei só as minhas duas malas, ok. Só que quando eu volto o moço falou que eu não podia entrar nem com a mochilinha, olha o impasse, não pode entrar nem guardar a mochila. Ou seja, na primeira meia hora que eu pus os pés no pais eu já me deparei com a famosa burocracia indiana, que faz qualquer ato aparentemente simples se transforme em uma missão. Mas deu tudo certo, tanto que eu não estou até agora em Delhi, morando no aeroporto. O carro não tinha retrovisor do lado do passageiro, que é bobagem. Nem o de dentro. Retrovisor é para os fracos! Para que ficar olhando para trás, para o que já se foi? Para frente é que se anda! E buzinando bastante que é para anunciar ao futuro que se está passando! O vidro da frente estava trincado, fora a a estrada e o transito, que não vou nem comentar. Me senti super segura. Eu tinha tentado me preparar para a Índia, li, conversei, me correspondi com as pessoas e sempre que durante esses dois meses viajando pela Ásia acontecia alguma coisa bizarra eu pensava, na Índia vai ser pior. Estou que nem o povo no Brasil, qualquer coisa que acontece as pessoas falam, "imagina na Copa?"
Mas nada, fotos, vídeos, livros, nada te prepara o suficiente para o que é aqui. Eu sabia que ia ser sujo, imundo mas mesmo assim a porquice é impressionante. É sujo nos mínimos detalhes, é minuciosamente sujo. Aqui é facinho de fazer dieta. Tirando o aeroporto, eu estava esperando algo do tipo rodoviária terminal parque Dom Pedro, mas era ok. Não adianta, não teve buraco que eu tenha ido que não me dê vergonha de Cumbica. Imagina na Copa?!